Quotes from Larry Pinkney’s article If You Support the Pro-Aparteid Zionist Barack Obama: Stop Complaining About Racism or Economic Exploitation Here and Abroad (June 19, 2008, Issue 282, The Black Commentator) were included in a Portuguese article published under Human Rights on September 2008, Issue 73 of Radis Magazine (Brazil):

http://www6.ensp.fiocruz.br/radis/revista-radis
/73/reportagens/o-grande-debate

Pelo sorriso bonito, ninguém diria. O senador democrata Barack Obama lidera as pesquisas para presidente dos Estados Unidos, mas sua campanha se equilibra entre a cruz e a caldeirinha. Reportagem do Washington Post de junho revelou que esta inédita candidatura impulsiona grupos racistas (www.washingtonpost.com). De outro lado, o candidato é odiado por ativistas afro-americanos, como os que conduzem a jovem publicação The Black Commentator (www.blackcommentator.com).

Barack Obama parece um resumo do mundo. Nasceu em Honolulu há 46 anos de pai queniano e mãe americana de origem européia, logo divorciados. Viveu com a mãe e o padrasto indonésio em Jacarta até os 10, quando voltou ao Havaí para morar com os avós maternos. A avó paterna,tios e primos continuam no Quênia — todos muçulmanos, mas Obama é protestante. Usou maconha e cocaína até se formar em Direito, em Harvard, virou advogado dos direitos civis, depois constitucionalista; casou-se, teve duas filhas e, numa carreira meteórica, foi eleito duas vezes senador estadual. Em 2004, chegou ao Senado federal. Em pleno primeiro mandato, lançou-se à disputa da Casa Branca com Hillary Clinton, que muitos já consideravam presidente.

Promete a retirada das tropas do Iraque, mas com cautela. Defende a legalização dos 12 milhões de imigrantes dos EUA, mas exige-lhes aprendizado do inglês e os ameaça com multas. Bolou um plano universal de saúde, mas em parceria com seguradoras privadas. Era a favor das cotas, mas na campanha tem defendido mais o critério da classe social, o que preocupa os negros. Apóia aborto, casamento gay e igualdade racial, mas abomina confrontos, a ponto de renegar seu pastor, Jeremiah Wright, que provocou escândalo ao falar de racismo e opressão nos “Estados Unidos da América Branca”.

“Apoiado por Wall Street, este sionista pró-apartheid não teria sucesso sem a cumplicidade dos neofascistas brancos do século 21, os assim chamados liberais/progressistas”, vitupera o conselheiro editorial do Black Commentator Larry Pinkney, veterano dos Black Panthers, ex-preso político, que trata a mídia como “meios de desinformação de massa”. O outro lado exulta: “Não tenho visto tanto ódio há muito tempo”, diz ao Post Billy Roper, 36 anos, líder do White Revolution, de Arkansas — grupos racistas como o dele cresceram 50% desde 2000. “Nada acordou mais os americanos pacatos do que a possibilidade de um presidente não-branco”. Nem o senador do Arizona John McCain, candidato republicano, escapa: pela posição moderada sobre imigração, é alvo dos racistas.

Obama queria ser visto como o “candidato de todos os americanos” e se esforçava para manter a questão racial fora da campanha. Mas tudo mudou. Em viagem internacional, em julho, foi recebido como chefe de Estado em vários países e ovacionado por 250 mil berlinenses em comício sob sol escaldante. Acuado, McCain passou a tratá-lo de “celebridade” — citou até a cantora pop Britney Spears —, despreparado para o governo. “Tentam assustá-los contra mim”, rebateu Obama. “Dizem: não é patriota o bastante, tem nome estranho, não se parece com os presidentes das notas de dólar”.

Ataques sucessivos de McCain começaram a funcionar e Obama viu-se vaiado  por ativistas negros em comício na Flórida — era a questão racial tomando seu lugar na campanha. Jornais e TV não falam de outra coisa. A tal ponto que a mídia descobriu que a monografia de graduação na Universidade de Princeton, em 1985, da mulher de Obama, Michelle, é um estímulo à militância. Ela enviou 400 questionários a universitários negros e concluiu que os mais conscientes da segregação tornavam-se mais úteis à comunidade do que os “assimilados”.

A realidade étnica americana surpreende os desavisados: os brancos são 79,96%; os negros não passam de 12,85%; asiáticos, 4,43%; nativos da América e do Alasca, 0,97%; nativos do Havaí e Pacífico, 0,18%; outras etnias, inclusive hispânicos, 1,61% (CIA World Factbook,
estimativa julho/2007).

Como disse um analista político ao Globo (2/7), a divisão da sociedade americana sempre será lembrada, por mais que Obama sonhe com uma era pós-racial. O grande debate (The great debaters), por exemplo, filme lançado nos EUA no primeiro semestre, quando Obama vencia as eleições primárias, é pessimista. Baseado em história real dos anos 30, tem direção de Denzel Washington, que encarna Melvin B. Tolson (1898-1966), poeta tardiamente reconhecido, ativista dos direitos civis e professor do Wiley College, pequena faculdade para negros no Sul das leis segregacionistas, só abolidas pela Suprema Corte em 1954. O professor ergue a auto-estima dos alunos criando uma equipe de debatedores que derrota os melhores do estado, depois do país.

A crítica arrasou o filme pelo “simplismo” e a inconsistência histórica. Fora dos “meios de desinformação”, contudo, constata-se que o roteiro expõe didaticamente iniqüidades nossas conhecidas, determinantes sociais da saúde, dos direitos humanos, da cidadania. No momento em que imigrantes são esmagados pela lei na Europa e nos EUA, em que a intolerância mata homossexuais e fere atletas, em que fundamentalistas fazem a humanidade retroceder, Denzel Washington cumpre um papel antigo do cinema: o de militante.

Se Obama acertou em fugir da questão, as urnas de novembro dirão. (M.C.)

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